
O detalhe é que das quatro protagonistas (uma beirando os 50 e as outras quarentonas), nenhuma tem o perfil da mulher ideal. Cafonas, cortes de cabelos horrorosos e pernas finas passam longe do que seria um shape ideal. O que falta em uma existe na outra. Vamos lá:
- Miranda: É feia da cabeça aos pés, tem um corte de cabelo que não ajuda e segue naquele estilão de mulher que domina a situação. Fica sem dar para o marido durante seis meses, sem se depilar durante um ano e acha um crime ele ter feito sexo com outra mulher.

- Charlotte: É a bonitinha-panaca e deslumbrada com o mundo adulto e a idéia de ter filhos. Casada com um bocó que parece viado, sua personagem carrega o estigma de ser a mais fresca do grupo. Numa viagem ao México, no filme, a piada mais primeiromundista que já vi: Charlotte come pudins americanos para não comer nada que seja confeccionado no México, o país indigente de terceiro mundo.

- Carrie Bradshaw: Tudo o que eu evitaria a vida inteira: feiosa, mania de magreza, cafona até as unhas, colunista de moda, feminilidades e a grande porta-voz dos anseios femininos. Planeja todo o casamento com o tal do Big (que parece ser um cara bacana até) e ainda fica puta quando ele não aparece no casamento. O pior é a canastrice. Não tem nada que ela faça (aí eu incluo também a atriz Sarah Jessica Parker) que não force um olhar sedutor.

- Samantha Jones: Tai uma personagem legal nessa merda toda. Perua, gostosa e caceteira até a alma, ela acha que nunca vai envelhecer. Faz surpresinhas sexuais e é ligadona em coisas como vouyerismo, ménage à trois e outras coisas legais com nomes estrangeiros. Lembro dela bombando em Porky’s, de 1982, onde já mostrava seu sex appeal nas telonas. No filme ela faz juma mulher de 50 anos, mas deve ter sido generosidade do roteirista.

Líder de bilheteria em sua estréia nos cinemas - e um dos maiores sucessos da TV americana, o seriado Sex and the city impôs regras ao modo de vida independente feminino e ganhou milhares de fãs mulheres que acreditam que a carreira em primeiro plano e o amor em segundo são a salvação de suas vidas perdidas. Acontecer naturalmente nem pensar, né?
Se a relação da música com o amor e a natureza masculina de Alta Fidelidade retratou fielmente um modo vida do homem moderno nas telas de cinema e nas páginas da obra de Nick Hornby, Sex and the city destrói a imagem da mulher moderna, transformando os valores femininos em futilidades típicas de uma princesa mimada que não tem problema na vida e se afunda numa depressão por qualquer besteira. Juro que até ri de um ou outro episódio da série na TV, mas o filme consegue vulgarizar legal a imagem da mulher independente e dona de si. Rolam uns peitinhos na película (não se preocupe, não são os da Sarah Jessica Parker) e umas referências de sacanagem que dão uma certa alegria, como a Kim Cattrall nua coberta de sushi esperando o namorado para uma surpresa.
Saí do cinema cabisbaixo e temeroso de que as mulheres todas queiram imitar aquele estilo de vida e dificultar cada vez mais o entendimento com o sexo oposto. Sei que algumas já trilham esse caminho. No final, todas elas se aproximaram do fantasma que sempre exorcizaram e acabam descobrindo que ficaram velhas para constituir uma família. Cuidado, mulher brasileira, cuidado.